A bancada de marceneiro é uma das principais ferramentas no arsenal do hobbista, principalmente nos casos de marcenaria artesanal. Há uma infinidade de opções para construir ou comprar uma morsa, sendo uma das mais clássicas a famosa morsa de perna (leg vise) que fica conectada à perna da bancada—daí o seu nome.
A figura acima mostra uma instalação incomum para uma morsa de perna: ao invés de uma guia linear perfurada, usei uma guia linear inteiriça, como as que são aplicadas em máquinas CNC. Já explico o porquê.
A morsa de perna clássica é construída com um fuso1 e uma guia linear perfurada (veja figura abaixo2). A guia mantém o mordente3 paralelo à perna da bancada por meio de um pino que deve ser reajustado para a abertura da morsa. Este mecanismo cria uma alavanca, cujo ponto de apoio reside na guia linear. Ao rosquear o fuso, esta alavanca pressiona a peça de trabalho, imobilizando-a. Nesta implementação clássica da morsa, o marceneiro precisa reposicionar o pino da guia a cada vez que desejar imobilizar peças de tamanhos diferentes, o que, além de desagradável, é bastante ineficiente!
Para evitar este trabalho extra de reajuste do pino, resolvi usar uma guia linear de CNC para ter livre movimentação do mordente. Com isto, para apertar ou afrouxar a morsa, não precisaria ajustar pino algum, bastando girar o fuso e nada mais. Tudo seria maravilhoso, se tivesse funcionado! Como a guia linear que usei possui pouquíssimo atrito—o que era de se esperar, pois a ideia é que ela mova livremente—o ponto de apoio da alavanca também desloca-se, fazendo com que o mordente deixe de ficar paralelo à perna, anulando a pressão aplicada à peça de madeira. Assim, a morsa deixa de funcionar, pois não consegue exercer pressão suficiente para imobilizar a peça de madeira.
A minha soluçao para o problema não foi muito elegante, porém funciona perfeitamente. Resolvi compensar a falta de paralelismo do mordente, que é inevitável, com um pedaço de madeira, como pode ser visto na figura abaixo.
É possível ver o ângulo que adicionei ao pedaço de madeira para que a falta de paralelismo do mordente possa ser compensada. Com isto o problema foi resolvido e a morsa está funcionando como eu inicialmente pretendia, sem precisar de qualquer mecanismo adicional para o ajuste da abertura. As duas mantas de cortiça que adicionei são opcionais, mas fortemente recomendadas, pois ajudam a distribuir a pressão aplicada na peça, aumentam o coeficiente de atrito no aperto e evitam marcar o trabalho e estragar horas de aplainamento manual.
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Parafuso, geralmente de metal e com rosca trapezoidal. Dificilmente encontrado hoje em dia, uma vez que as morsas inteiriças, já com as guias lineares, são mais comuns. ↩
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Fonte: FineWoodworking Magazine. ↩
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Parte da morsa que se move, aplicando pressão na peça que se deseja afixar. Geralmente é composto de um pedaço de madeira onde se instalam o fuso e a guia linear. ↩